Em um aspecto mais amplo, o gerenciamento de configuração (GC) refere-se ao processo de manipular sistematicamente as alterações em um sistema, de maneira a manter a integridade ao longo do tempo. Embora esse processo não tenha sido originado no setor de TI, o termo é amplamente usado para se referir ao gerenciamento de configuração de servidor.
A automação desempenha um papel essencial no gerenciamento de configuração de servidor. É o mecanismo usado para fazer o servidor alcançar um estado desejável, definido anteriormente por scripts de provisionamento usando a linguagem e os recursos específicos de uma ferramenta. A automação é, de fato, o coração do gerenciamento de configurações de servidores, e é por isso que é comum também se referir às ferramentas de gerenciamento de configuração como Ferramentas de Automação ou Ferramentas de Automação de TI.
Outro termo comum usado para descrever os recursos de automação implementados pelas ferramentas de gerenciamento de configuração é Orquestração de Servidor ou Orquestração de TI, uma vez que essas ferramentas geralmente são capazes de gerenciar de um a centenas de servidores a partir de uma máquina controladora central.
Existem várias ferramentas de gerenciamento de configuração disponíveis no mercado. Puppet, Ansible, Chef e Salt são escolhas populares. Embora cada ferramenta tenha suas próprias características e funcione de maneiras ligeiramente diferentes, todas elas são orientadas pelo mesmo propósito: garantir que o estado do sistema corresponda ao estado descrito pelos seus scripts de provisionamento.
Embora o uso do gerenciamento de configuração geralmente exija mais planejamento e esforço iniciais do que a administração manual do sistema, todas as infraestruturas de servidor, exceto as mais simples, serão aprimoradas pelos benefícios que ele oferece. Para citar alguns:
Sempre que um novo servidor precisa ser deployado, uma ferramenta de gerenciamento de configuração pode automatizar a maior parte, se não todo, do processo de provisionamento para você. A automação torna o provisionamento muito mais rápido e eficiente, pois permite que tarefas tediosas sejam executadas com mais rapidez e precisão do que qualquer ser humano poderia. Mesmo com a documentação adequada e completa, o deployment manual de um servidor web, por exemplo, pode levar horas em comparação a alguns minutos com o gerenciamento/automação da configuração.
Com o provisionamento rápido, vem outro benefício: recuperação rápida de eventos críticos. Quando um servidor fica offline devido a circunstâncias desconhecidas, pode levar várias horas para se auditar adequadamente o sistema e descobrir o que realmente aconteceu. Em cenários como esse, fazer o deploy de um servidor substituto geralmente é a maneira mais segura de colocar seus serviços online novamente enquanto uma inspeção detalhada é feita no servidor afetado. Com o gerenciamento e a automação da configuração, isso pode ser feito de maneira rápida e confiável.
À primeira vista, a administração manual do sistema pode parecer uma maneira fácil de fazer deploy e corrigir rapidamente os servidores, mas isso geralmente tem um preço. Com o tempo, pode se tornar extremamente difícil saber exatamente o que está instalado em um servidor e quais alterações foram feitas quando o processo não é automatizado. Os hotfixes manuais, os ajustes de configuração e as atualizações de software podem transformar os servidores em snowflakes exclusivos, difíceis de gerenciar e ainda mais difíceis de replicar. Usando uma ferramenta de GC, o procedimento necessário para lançar um novo servidor ou atualizar um existente estará documentado nos scripts de provisionamento.
Depois de ter sua configuração do servidor traduzida em um conjunto de scripts de provisionamento, você poderá aplicar ao ambiente do seu servidor muitas das ferramentas e fluxos de trabalho que você normalmente usa para o código-fonte de software.
Ferramentas de controle de versão como o Git, podem ser usadas para acompanhar as alterações feitas no provisionamento e manter ramificações separadas para as versões antigas dos scripts. Você também pode usar o controle de versão para implementar uma política de code review para os scripts de provisionamento, onde todas as alterações devem ser submetidas como um pull request e aprovadas pelo líder do projeto antes de serem aceitas. Essa prática adicionará consistência extra à sua configuração de infraestrutura.
O gerenciamento de configuração torna trivial replicar ambientes com exatamente o mesmo software e as mesmas configurações. Isso permite que você crie efetivamente um ecossistema de vários estágios, com servidores de produção, desenvolvimento e teste. Você pode até usar máquinas virtuais locais para desenvolvimento, criadas com os mesmos scripts de provisionamento. Essa prática minimizará os problemas causados por discrepâncias no ambiente que ocorrem com frequência quando as aplicações são deployadas na produção ou compartilhadas entre colegas de trabalho com diferentes configurações de máquina (sistema operacional diferente, versões de software e/ou configurações).
Embora cada ferramenta de GC tenha seus próprios termos, filosofia e ecossistema, elas geralmente compartilham muitas características e têm conceitos semelhantes.
A maioria das ferramentas de gerenciamento de configuração usa um modelo de controlador/mestre e node/agente. Essencialmente, o controlador direciona a configuração dos nodes, com base em uma série de instruções ou tasks definidas em seus scripts de provisionamento.
Abaixo, você encontra os recursos mais comuns presentes na maioria das ferramentas de gerenciamento de configuração para servidores:
Cada ferramenta de gerenciamento de configuração fornece uma sintaxe específica e um conjunto de recursos que você pode usar para escrever scripts de provisionamento. A maioria das ferramentas possui recursos que tornam sua linguagem semelhante às linguagens de programação convencionais, mas de maneira simplificada. Variáveis, loops e condicionais são recursos comuns fornecidos para facilitar a criação de scripts de provisionamento mais versáteis.
As ferramentas de gerenciamento de configuração controlam o estado dos recursos para evitar a repetição de tarefas que foram executadas anteriormente. Se um pacote já estiver instalado, a ferramenta não tentará instalá-lo novamente. O objetivo é que, após cada execução de provisionamento, o sistema atinja (ou mantenha) o estado desejado, mesmo que você o execute várias vezes. É isso que caracteriza essas ferramentas como tendo um comportamento idempotente. Esse comportamento não é necessariamente imposto em todos os casos, no entanto.
As ferramentas de gerenciamento de configuração geralmente fornecem informações detalhadas sobre o sistema que está sendo provisionado. Esses dados estão disponíveis através de variáveis globais, conhecidas como facts. Eles incluem coisas como interfaces de rede, endereços IP, sistema operacional e distribuição. Cada ferramenta fornecerá um conjunto diferente de facts. Eles podem ser usados para tornar os scripts e templates de provisionamento mais adaptáveis a vários sistemas.
A maioria das ferramentas de GC fornecerá um sistema de templates interno que pode ser usado para facilitar a criação de arquivos e serviços de configuração. Os templates geralmente suportam variáveis, loops e condicionais que podem ser usados para maximizar a versatilidade. Por exemplo, você pode usar um template para configurar facilmente um novo virtual host no Apache, enquanto reutiliza o mesmo template para várias instalações de servidores. Em vez de ter apenas valores estáticos codificados, um template deve conter espaços reservados (placeholders) para valores que podem mudar de host para host, como NameServer
e DocumentRoot
.
Embora os scripts de provisionamento possam ser muito especializados para as necessidades e demandas de um servidor específico, há muitos casos em que você tem configurações semelhantes de servidor ou partes de uma configuração que podem ser compartilhadas entre vários servidores. A maioria das ferramentas de provisionamento fornecerá maneiras pelas quais você pode reutilizar e compartilhar facilmente pequenos blocos de sua configuração de provisionamento como módulos ou plugins.
Módulos e plugins de terceiros geralmente são fáceis de encontrar na Internet, especialmente para configurações comuns de servidores, como a instalação de um servidor web PHP. As ferramentas de GC tendem a ter uma comunidade forte criada em torno delas e os usuários são incentivados a compartilhar suas extensões personalizadas. O uso de extensões fornecidas por outros usuários pode economizar muito tempo, além de servir como uma excelente maneira de aprender como outros usuários resolveram problemas comuns usando a ferramenta de sua escolha.
Existem muitas ferramentas de GC disponíveis no mercado, cada uma com um conjunto diferente de recursos e diferentes níveis de complexidade. As escolhas populares incluem Chef, Ansible e Puppet. O primeiro desafio é escolher uma ferramenta que seja adequada às suas necessidades.
Há algumas coisas que você deve levar em consideração antes de fazer uma escolha:
A maioria das ferramentas de gerenciamento de configuração requer uma hierarquia mínima composta por uma máquina controladora e um node que será gerenciado por ela. O Puppet, por exemplo, exige que uma aplicação agent seja instalada em cada node e um aplicação master seja instalada na máquina do controlador. O Ansible, por outro lado, possui uma estrutura descentralizada que não requer instalação de software adicional nos nodes, mas depende do SSH para executar as tarefas de provisionamento. Para projetos menores, uma infraestrutura simplificada pode parecer melhor, no entanto, é importante levar em consideração aspectos como escalabilidade e segurança, que podem não ser impostos pela ferramenta.
Algumas ferramentas podem ter mais componentes e partes móveis, o que pode aumentar a complexidade da sua infraestrutura, impactando na curva de aprendizado e possivelmente aumentando o custo geral de implementação.
Como mencionado anteriormente neste artigo, as ferramentas de GC fornecem uma sintaxe personalizada, às vezes usando uma linguagem de domínio específico (DSL) e um conjunto de recursos que compõem seu framework de automação. Como nas linguagens de programação convencionais, algumas ferramentas exigem uma curva de aprendizado mais alta para serem dominadas. Os requisitos de infraestrutura também podem influenciar a complexidade da ferramenta e a rapidez com que você poderá ver um retorno do investimento.
A maioria das ferramentas de GC oferece versões gratuitas ou open source, com assinaturas pagas para recursos e serviços avançados. Algumas ferramentas terão mais limitações que outras, portanto, dependendo de suas necessidades específicas e de como sua infraestrutura cresce, você pode acabar tendo que pagar por esses serviços. Você também deve considerar o treinamento como um custo extra em potencial, não apenas em termos monetários, mas também em relação ao tempo necessário para atualizar sua equipe com a ferramenta que você acabou escolhendo.
Como mencionado anteriormente, a maioria das ferramentas oferece serviços pagos que podem incluir suporte, extensões e ferramentas avançadas. É importante analisar suas necessidades específicas, o tamanho da sua infraestrutura e se há ou não a necessidade de usar esses serviços. Os painéis de gerenciamento, por exemplo, são um serviço comum oferecido por essas ferramentas e podem facilitar muito o processo de gerenciamento e monitoramento de todos os seus servidores a partir de um ponto central. Mesmo que você ainda não precise desses serviços, considere as opções para uma possível necessidade futura.
Uma comunidade forte e acolhedora pode ser extremamente útil em termos de suporte e documentação, pois os usuários geralmente ficam felizes em compartilhar seu conhecimento e suas extensões (módulos, plugins e scripts de provisionamento) com outros usuários. Isso pode ser útil para acelerar sua curva de aprendizado e evitar custos extras com suporte ou treinamento pagos.
A tabela abaixo deve lhe fornecer uma rápida visão geral das principais diferenças entre as três ferramentas de gerenciamento de configuração mais populares disponíveis no mercado atualmente: Ansible, Puppet e Chef.
Ansible | Puppet | Chef | |
---|---|---|---|
Linguagem do Script | YAML | DSL personalizada baseada em Ruby | Ruby |
Infraestrutura | A máquina controladora aplica a configuração nos nodes via SSH | O Puppet Master sincroniza a configuração nos Puppet Nodes | As Workstations do Chef enviam a configuração para o Chef Server, a partir do qual os nodes do Chef serão atualizados |
Requer software especializado para os nodes | Não | Sim | Sim |
Fornece ponto de controle centralizado | Não. Qualquer computador pode ser um controlador | Sim, via Puppet Master | Sim, via Chef Server |
Terminologia do script | Playbook / Roles | Manifests / Modules | Recipes / Cookbooks |
Ordem de Execução das Tarefas | Sequencial | Não-sequencial | Sequencial |
Até agora, vimos como o gerenciamento de configuração funciona para servidores e o que considerar ao escolher uma ferramenta para criar sua infraestrutura de gerenciamento de configuração. Nos guias subsequentes desta série, teremos uma experiência prática com três ferramentas populares de gerenciamento de configuração: Ansible, Puppet e Chef.
Para que você possa comparar essas ferramentas por si mesmo, usaremos um exemplo simples de configuração de servidor que deve ser totalmente automatizado por cada ferramenta. Essa configuração consiste em um servidor Ubuntu 18.04 executando o Apache para hospedar uma página web simples.
O gerenciamento de configuração pode melhorar drasticamente a integridade dos servidores ao longo do tempo, fornecendo um framework para automatizar processos e acompanhar as alterações feitas no ambiente do sistema. No próximo guia dessa série, veremos como implementar uma estratégia de gerenciamento de configuração na prática usando Ansible como ferramenta.
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